O exercício matinal é quase sempre inglório.

- Acorda! Põe-te a pé que já é tarde.

Sacudi os lençóis que me embrulhavam. Esbracejei até dar com um buraco e aí enfiei cabeça saindo da cama. Dirigi-me à cadeira de pernas tortas e costas curvas de onde pendia um montão de roupa acumulada há dias. Atirei a mão a uma camisola que estava lá por baixo e, puxando-a, caíram umas calças no chão ainda frio da manhã. Vesti-as automaticamente ainda com os olhos presos no último sonho do meu curto sono. Saí do quarto e corri esfomeadamente para a cozinha onde engoli em três tempos um copo de leite frio e meio pão com manteiga. De seguida agarrei na mochila e abri a porta de casa. Precipitei-me escadas a baixo. Com a velocidade que levava, os degraus pareciam diminuir de tamanho a cada salto. Quase arrombei a porta do prédio com o olhar desejoso de que estivesse já aberta. Cravei os dedos na maçaneta imóvel. Ainda estava fechada. Muni-me então da chave e disparei-a contra o canhão ferrugento da porta cerrada. Chiaram finalmente as dobradiças que deram início ao contra-relógio rumo ao comboio das oito e dois daquela manhã. Ao chegar à rua do apeadeiro, vi ao fundo o comboio a suspirar em despedia.

- Ah...vou no das nove e dois. Bem que podia ter dormido.