Um balde de água quente

Certo dia alguém levou uma caixa à sala. A caixa entrou. Pôs-se lá desarrumada e não se arrumou. Nada disse. Como entrou, assim ficou: calada, ausente, absorta. Pensei que lá dentro tivesse um sofá desunido, ponto a ser montado. Mas não. A caixa não quis adornar a frieza da sala com a cálida presença do sofá. Além do seu marasmo, nada acrescentou à sala. Estava frio à mesma.
Mais tarde nesse dia, outra caixa chegou. Entrou. Era maior. Talvez envolvesse um bonito móvel, daqueles bem trabalhados e que impressionam qualquer um! Fiquei à espera que fosse montado…mas nada. Afinal era só mais uma caixa. Mas era mais afável que a anterior – ao entrar cumprimentou toda a gente, mesmo estando a sala quase vazia. Quer dizer…toda a gente não. Não cumprimentou a caixa baixinha. Talvez não a tivesse visto. Mas nada acrescentou à sala senão mais uma imagem. Continuava frio.
Um dia depois da chegada das caixas chegou um balde. Ao contrário das caixas tinha rótulo. Lia-se “CORES”. Então, como que num passo de magia, o balde abriu-se e pintou o frio de várias cores. Fez quadrados. Com um pincel fabulado espalhou as cores. Fez uma pintura de uma pequena janela no tecto, por onde entrava luz. Fez as sombras das caixas. Refez as caixas.
O balde agiu, não foi altivo. Importou-se, não se fez de despercebido. Actuou, não se conformou. Gastou-se, por isso não o vemos. Mas fez o Quente. E isso sentimos.
As cores foram o borralho da sala outrora fria.
O frio que estava passou.
2 comentários:
Não diria confuso... Diria complexo...
Se bem que por vezes a complexidade e a confusão se acompanham na caminhada do esclarecimento...
Nada acrescento...
Beijo
P.S.: Até me deves uma massagem por esta divagação...
Ainda não te disse nada sobre este?! LOL Gostei imenso, epah mesmo! É muita fixe! Adorei
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